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"...ao longo destes 36 anos, o clube e a equipa de futebol do Sporting de Braga, versão 2009/10, fizeram mais pela regionalização do que os 18 governos constitucionais pós-1976"

28 abr 2010

Regionalizar pelo futebol

Neste espaço, tenho procurado manter uma tematização algo tributária da minha actividade profissional: o ensino superior, a inovação e o empreendedorismo, as cidades e o desenvolvimento regional... Mas hoje não é um dia qualquer. É 25 de Abril e é quase obrigatório sustentar o texto numa qualquer referência de 1974. O futebol dar-me-á o mote para essa ancoragem.

Dito isto, e tendo passado a minha juventude na área de Lisboa, fiquei logo tentado a relatar a Revolução, vista a partir dos olhos de um miúdo de 12 anos: a fantástica descrição feita pelo meu saudoso pai, que, trabalhando num escritório em frente ao Quartel-General das Forças Armadas, começou o dia semisequestrado por uns quantos militares de camuflado; a participação em marchas de rua onde gritei “MRPP”, sem fazer a menor ideia do que isso significava; ou ainda a mobilização para milícias que, à entrada da capital, revistavam automóveis para prevenir a invasão dos “reaccionários”.

Poderia ir por aqui e continuar a somar memórias passadas…Mas mudei de ideias. Vou escrever sobre o País de então, leia-se as suas regiões, e o País de agora.

Inevitavelmente, adopto uma abordagem científica: referenciais conceptual, temporal e geográfica, uma grandeza, umas quantas variáveis e por aí fora… A grandeza? O futebol. A base conceptual? A presença de clubes no campeonato da primeira divisão é uma medida da importância das regiões onde estão sedeados. Tomei então o campeonato nacional da primeira divisão, nas suas edições de 1973/74 e 2009/10. Dividi o País em nove regiões: Minho, Trás-os-Montes, Área Metropolitana do Porto, Centro Litoral, Centro Interior, Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo, Algarve e Regiões Autónomas. Para cada uma destas regiões, contabilizei o número de clubes da primeira divisão em 1974 e em 2010, resultando do exercício dois mapas de Portugal.

Em 1974, o país estava centrado na Área Metropolitana de Lisboa (8 clubes); a Área Metropolitana do Porto detinha uma relevância muito menor, embora ainda com alguma expressão nacional (3 clubes); o Centro Litoral, o Algarve e o Minho eram pouco importantes (1 a 2 clubes); Trás-os-Montes, o Centro Interior, o Alentejo e as Regiões Autónomas inexistiam.
Em 2010, as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto dividem o protagonismo maior (4 clubes cada); o Minho, o Centro Litoral e as Regiões Autónomas (neste caso apenas a Madeira)assumem uma relevância secundária, mas já com expressão nacional (2 a 3 clubes); o Algarve caiu para o último patamar de relevância (apenas 1 clube); Trás-os-Montes, o Centro Litoral e o Alentejo continuam a inexistir.

Procurando qualificar melhor, espreitei os cinco primeiros classificados dos campeonatos do ano da Revolução e os de 2010 (neste caso, a três jornadas do fim). Assim, há 36 anos a tabela foi liderada pelos seguintes clubes: Sporting, Benfica,Setúbal, Porto e Belenenses; 5 da área de Lisboa e apenas um do Porto. Este ano, a tabela é liderada por estes clubes: Benfica, Braga, Porto, Sporting e Guimarães; 2 de Lisboa, 2 do Minho e um do Porto.

Façamos então a análise. Em 1974, ano da Revolução, o Mapa de Portugal futebolístico era a expressão territorial do regime ditatorial então deposto: centralista, adoptando Lisboa como centro do mundo, leia-se do Império, deferindo uma importância menos que moderada ao Norte trabalhador e ao Algarve das férias. O resto (Interior,Alentejo e Ilhas) era simplesmente paisagem.

Entre 1974 e 2010, o país “regionalizou-se” parcialmente. O Porto recuperou face a Lisboa, o Minho começa a assumir estatuto de polaridade de relevância nacional, a Madeira deu um salto de gigante, o Algarve continuou a enfermar da fragilidade da sazonalidade. Trás-os-Montes, Centro Litoral e Alentejo continuam esquecidos, fora do mapa da relevância.

É assim no futebol, mas também no ensino superior, na economia e em tudo aquilo que releva. Ou seja, a “regionalização parcial” a que me referi atrás é tão simplesmente aquela que resulta da inércia própria de um País que se libertou de uma ditadura. Não é a regionalização legítima, aquele desígnio que foi consagrado no texto constitucional, que deveria necessariamente resultar de uma acção pró-activa dos nossos representantes nas instâncias governamentais e parlamentares e trazer ao País as dinâmicas equilibradoras do mundo desenvolvido.

É por isso que eu acho que, ao longo destes 36 anos, o clube e a equipa de futebol do Sporting de Braga, versão 2009/10, fizeram mais pela regionalização do que os 18 governos constitucionais pós-1976. Lembraram ao País que existe Portugal para além de Lisboa e do Porto.

IN Correio do Minho(http://www.correiodominho.com/) por JOSÉ F. G. MENDES (Vice-Reitor da Universidade do Minho para a Inovação e Projectos Especiais)

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